Conheça o casal que viaja o Brasil e o mundo avaliando a acessibilidade dos estádios

Apaixonado por futebol e pelo Vasco, o casal Cláudio e Karla Bazoli sempre gostou de frequentar estádios. Moradores do Rio de Janeiro, viviam acompanhando partidas em São Januário, Maracanã, Nilton Santos. Todos eram extensões de suas casas.
A paixão por estar nas arquibancadas ao lado da pessoa amada foi crescendo, e assim como há pessoas que colecionam selos, moedas antigas ou camisas de clubes, Cláudio e Karla passaram a colecionar estádios visitados.
Desde 2013, o advogado de 48 anos e a jornalista, de 39, passaram a viajar unicamente para conhecer estádios de futebol. No total, o casal já visitou 206 deles, em 24 estados do Brasil e em outros 21 países.
Viraram os Caçadores de Estádios nas redes sociais. Mas com um detalhe bastante importante: Cláudio é cadeirante. Cada visita a um estádio é um teste de acessibilidade. Um teste para saber o quanto o futebol brasileiro e mundial está preparado para receber torcedores PCD (sigla para Pessoas Com Deficiência).
“No começo eu achava que, por ser cadeirante, não conseguiria viajar para conhecer estádios fora do Rio. Começamos a avaliar a experiência da acessibilidade nos estádios e buscar melhorias para atrair o maior número possível de PCDs para os jogos”.
“Essa ideia de avaliar surgiu após passarmos por diversos tipos de sufoco e situações constrangedoras por falta de locais acessíveis”, diz Cláudio em entrevista ao 365Scores.
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Entre os sufocos passados, Cláudio lista ser carregado por escadarias pois o acesso às arquibancadas não tinha rampas, bilheterias sem prioridade para cadeirantes, visões do campo obstruídas por outras pessoas e o infelizmente tradicional uso das vagas de estacionamento para PCD por carros de pessoas sem deficiências.
O que é analisado?
“Em cada estádio visitado, analisamos diversos fatores. Se há informações do setor destinado aos PCDs, se há gratuidade estipulada por lei na bilheteria, se o local acessível realmente é funcional, se há obstrução da visão do cadeirante quando o público se levanta, se há rampas ou elevadores para facilitar a chegada na arquibancada”.
“Quando falo em acessibilidade, não é só para cadeirantes, mas também para idosos, obesos, deficientes de uma maneira geral, grávidas”, lista Cláudio.
Vascaíno, Cláudio lamenta as dificuldades que sofre para assistir ao seu time do coração jogar em São Januário, um estádio quase centenário:
“A acessibilidade lá para cadeirantes deixa muito a desejar. Eu sempre vou de social, e a entrada é por escadaria. Abrem a porta da garagem, entro pela rampa irregular. Durante o jogo, todos ficam em pé. Não é nada fácil”, analisa ele, que diz conversar bastante com um dos responsáveis pela construção do novo estádio do Vasco e cita um ponto positivo do estádio.
“A gratuidade para PCD é online, pelo site. Você anexa o laudo e resgata o ingresso sem sair de casa. Parece o básico, mas em muitos outros estádios, como o Maracanã, você tem que ir presencialmente resgatar a gratuidade”.
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Em contato com o 365Scores, a assessoria de imprensa do Vasco informou que um guarda-corpo vai ser instalado no local destinado aos cadeirantes no estádio.

Se São Januário não é exatamente o melhor lugar para um cadeirante frequentar, também não é o pior. Cláudio não pensa duas vezes na hora de apontar o estádio em que passou mais sufoco em termos de acessibilidade. E também é rápido ao responder onde teve a melhor experiência.
“No Brasil, sem dúvida nenhuma gostamos muito da Arena MRV. O espaço do cadeirante é cercado por grades, e isso permite que apenas o PCD e o seu acompanhante entrem no setor. Há funcionários do estádio controlando quem entra e sai”.
“Já nas outras arenas do país é meio bagunçado. Mesmo havendo o local acessível, as coisas não funcionam pois como não há organização ou qualquer tipo de controle, as pessoas invadem esses locais e acabam obstruindo a visão.”
O pior no Brasil
“Já tive muitas experiências ruins no Brasil, mas nada comparado à Arena Fonte Nova, em Salvador. Todo local do cadeirante obrigatoriamente deve ser elevado, pois se o público abaixo se levanta não obstruirá a sua visão”.
“Na Fonte Nova falharam feio no planejamento. O local do cadeirante e do seu acompanhante é no mesmo nível das cadeiras, e o público estava todo de pé. Para resumir, eu que saí do Rio de Janeiro não consegui assistir ao jogo de maneira respeitosa e digna”.

E no exterior?
Fora do Brasil, Cláudio e Karla já viveram experiências marcantes com a atmosfera de um lotado Monumental Más, o estádio do River Plate, em Buenos Aires, mas elegem um estádio do Paraguai como o melhor. E, curiosamente, um estádio novinho em folha, construído para a Copa do Mundo de 2022, como o pior.
“Me chamou atenção o Al Bayt, no Catar. Não esperava que em plena Copa do Mundo o espaço do cadeirante tivesse a visão obstruída. Os arquitetos responsáveis por construir locais acessíveis deveriam consultar pessoas que entendessem do assunto”.
“E gostamos muito de assistir a um jogo no La Nueva Olla, do Cerro Porteño. Foi uma experiência bem bacana, com visão privilegiada, gratuidade nos ingressos e local próximo da entrada e saída. Esse é um ponto bem importante, pois em caso de emergência ou confusão o cadeirante consegue sair do estádio com facilidade“, explica Cláudio.

Jogo do lado do banco de reservas
Somente no estado do Rio de Janeiro o casal já visitou 32 estádios. Além dos principais, foi a inúmeros dos chamados clubes de menor investimento. E aí, em muitos casos, entra em ação o famoso “jeitinho brasileiro“.
“A gente percebe que há um esforço para que o cadeirante tenha uma experiência legal, mesmo com o estádio não tendo acessibilidade. No Bonsucesso, por exemplo, eles colocam o cadeirante ao lado do banco de reservas.

O sonho de consumo do casal é o Hard Rock Stadium, em Miami, que foi utilizado na Copa do Mundo de Clubes e receberá jogos no Mundial de seleções no ano que vem. Cláudio e Karla já tiraram o visto americano e pretendem acompanhar o torneio.
“A luta é dura, mas aos poucos as coisas vão acontecendo. Recebo muitas mensagens de seguidores e de viajantes de futebol, nos falando que graças ao nosso projeto eles hoje em dia se sentem conscientizados a respeitar os espaços dos PCDs”, diz Cláudio.
“Para que a acessibilidade nos estádios de futebol realmente funcione no Brasil, não é apenas construir o espaço de qualquer maneira e pintar o símbolo da acessibilidade no chão. A inclusão tem que funcionar na prática e não apenas na teoria. Futebol é para todos“, finaliza.
Curiosidades dos Caçadores de Estádios
- Estádios visitados: 206
- Países: 22
- Estados do Brasil visitados: 24
- Estados que faltam: Acre, Amapá e Tocantins
- Melhor estádio visitado no Brasil: Arena MRV (Belo Horizonte)
- Pior estádio visitado no Brasil: Arena Fonte Nova (Salvador)
- Melhor estádio visitado no exterior: La Nueva Olla (Assunção-PAR)
- Pior estádio visitado no exterior: Al Bayt (Al Khor-CAT)

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